Há aproximadamente 10 anos , o mercado cervejeiro vem se destacando ao apresentar variados estilos de cervejas que se diferenciam pela pluralidade de aromas e sabores. Essas cervejas, denominadas de cervejas artesanais, apresentam matérias-primas de alta qualidade e grau de excelência por respeitar cada etapa do processo produtivo em seus mínimos detalhes. O resultado dessas características trazem cervejas com uma infinidade de cores, aromas, sabores e corpo que são traduzidos em características sensoriais inigualáveis.
Assim, surgem consumidores exigentes que alimentam a busca incessante por produtos de altíssima qualidade, ao mesmo tempo que projetam a ascenção dessa fatia do mercado cervejeiro. Várias estratégias das macro e microcervejarias se consolidaram para garantir a competitividade e a comercialização das cervejas artesanais. E para ganhar o mercado é preciso inovar. E inovar é empreender, é aplicar conhecimento tecnico-científico. A inovação depende da pesquisa científica. O Brasil, terceiro maior produtor de cervejas do mundo e um dos maiores consumidores de cerveja não ficaria atrás.
Inúmeras pesquisas abragem desde a identidade visual, redução nos custos do processo, inserção de novos adjuntos, utilização de novas leveduras, novas embalagens, o envelhecimento de cervejas em barris de diferentes madeiras, reaproveitamento de resíduos e a utilização de matérias-primas básicas genuinamente nacionais (malte e lúpulo), são alguns exemplos de inovação nesse setor.
Exemplos como a cervejaria Therezópolis em parceria com a Sorveteria Sol a Sol (ambas no Rio de Janeiro) que lançaram picolés cremosos feitos com cerveja artesanal e que contém teor alcoólico. São cinco sabores: Laranja com Weissbier, Doce de Leite com IPA, Chocolate Belga com Dunkel, Gianduia com Bock e Damasco com Pilsen.
A Cervejaria Krug Brier, em Belo Horizonte, inovou ao apresentar a Krug Jambu, uma cerveja que apresenta notas de maracujá e manga, porém com o efeito da dormência na boca provocada pela erva jambu.
O Professor Rogélio Lopes Brandão, da UFOP, que há mais de 20 anos pesquisa sobre processos fermentativos na produção de cerveja. Dr Rogélio seleciona cepas de leveduras da Sacharomisae cerevisae usadas na produção de cachaça, que apresentam potenciais produção de substâncias aromatizantes, que serão utilizadas para a produção de cerveja. Particularmente, já experimentei as cervejas produzidas e são espetaculares.
A Cervejaria Pratinha, de Ribeirão Preto que inovou ao apresentar a cerveja instantânea. Trata-se de uma cerveja artesanal ultraconcentrada, em versão sachê de 250 mL, que precisa apenas adicionar água gaseificada gelada para beber. Mas não se engane, o projeto adveio da linha Magic Booze, start-up da Pratinha e foram investidos R$ 9 milhões de reais para colocar a ideia em prática.
A Cervejaria Leuven, em Piracicaba (SP), criou alguns rótulos de suas cervejas em realidade aumentada. Basta baixar o aplicativo da cervejaria e apontar o smartphone para o que os rótulos das garrafas para os personagens ganharem vida e movimento.
Em meu doutorado, foi desenvolvida uma cerveja de Macáuba. A palmeira Macaúba tem grande dispersão no cerrado nacional e apresenta alto potencial de aproveitamento do seu fruto. Utilizou-se o resíduo da sua cadeia produtiva, a torta da polpa do fruto, como adjunto adicionado juntamente ao malte. Esse adjunto apresenta baixo custo e proporcionou à cerveja características sensoriais de um fruto do cerrado brasileiro.
Outra grande atração nesse mercado é a variação de estilos, que permitem o consumidor mergulhar numa descoberta de aroma e sabores surpreendentes. Como por exemplo cervejas produzidas com maltes defumados, que apresentam sabor de bacon, que tem graduação alcóolica acima de 10%, envelhecidas em diferentes barris, cervejas de guarda (abertas depois de anos), cervejas ácidas, cervejas com características de champagne.O universo cervejeiro é fascinante, desde sua história até os dias de hoje que incorporou a tecnologia e a pesquisa em prol de uma experiência sensorial inigualável.
Hoje essa diversidade de estilos oportunizou a cerveja estar inserida no universo gastronômico que abrange diferentes abordagens de harmonização de comida com a cerveja.
Não apenas cervejarias artesanais, mas a Ambev, possui um Centro de Desenvolvimento Tecnológico com alto investimento em pesquisas e inovação voltados intrinsicamente para o mercado cervejeiro. O Centro localiza-se no Parque Tecnológico da UFRJ.
O mercado de cerveja artesanal é amplo e abrange um público de todos os gostos e classe social. Para se destacar e permanecer no mercado é necessário acompanhar as tendências e investir para a obtenção de produtos inovadores. O desafio faz parte, e aplicar o conhecimento tecnológico para investir em inovação é garantia de sucesso. Afinal a inovação é a válvula propulsora para o empreendedorismo.
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